É evidente que a relação de amor do Criador para com sua
criatura é único, ímpar e sem comparação, mas o nosso frágil poder de pensar e
imaginar pede-nos que façamos algumas analogias para compreendermos melhor a
profundidade do amor de Deus para o homem.
“Desci à casa do oleiro e eis que ele
estava entregue à sua obra.” (Jeremias 18:3)
A relação de Deus com o homem é retratada na passagem em que
Jeremias vai à casa do oleiro. Assim como o oleiro não se satisfaz em ver sua
obra desmanchando-se imperfeita e torna a modelá-la, nós somos também obra de
arte divina na qual ele trabalha e não ficará satisfeito até que apresentemos
determinado caráter. Ao fazer um rabisco simples, um artista talvez não se
importe com as imperfeições, mas quando faz a obra de sua vida, o quadro que
ele ama, ele irá esforçar-se infinitamente para obter sua obra prima. Talvez se
o quadro ou o vaso fossem dotados de sentidos não desejasse ser quebrado,
remodelado, raspado, repintado pela décima vez, preferindo ser apenas um esboço
que fosse terminado rapidamente, da mesma forma é natural querermos que Deus
nos dê um destino não tão árduo, mais fácil e menos glorioso. Isso não é querer
mais amor e sim menos.
“Ó pequenino rebanho” (Lucas 12:32)
Outro bom exemplo de amor é o que o homem tem por um animal,
este melhor que o primeiro porque o objeto amado é dotado de sensibilidade. A
relação, por exemplo, entre um homem e um cachorro pode nos ensinar sobre o
amor de Deus.
Em primeiro lugar o homem amansa o cão para poder amá-lo e
não para que o cão o ame. Ele o adestra para que o cão possa servi-lo e não ele
ao cão. No entanto os interesse do cachorro não são sacrificados em favor do
homem. O homem interfere na natureza do cão para torná-lo mais amável do
que ele seria no seu estado natural, banha-o, ensina-o a fazer as necessidades
no lugar certo, ensina-o a não roubar as coisas para que possa amá-lo
interiormente. O filhote se pudesse raciocinar talvez poria em dúvida a bondade
do homem, mas depois de crescido saudável, maior e com mais tempo de vida que
um cão selvagem, estaria totalmente agradecido e amaria ao homem que cuidou e o
adestrou.
“Porque o pai ama ao filho” (João 5:20)
Jesus muitas vezes usou a analogia do amor de um pai para o
filho para expressar o amor de Deus para o homem, mas é importante salientar
que na época em que Jesus pregava a autoridade paterna ocupava um lugar bem
mais elevado que nos nossos dias. O amor neste símbolo significa amor
autoritário de um lado e amor obediente do outro. O pai que ama utiliza de sua
autoridade para fazer do filho o que ele, com sua sabedoria superior, deseja
que o filho seja. Não é amor o que sente um pai que diz: “Amo o meu filho, mas
não me importa que seja um canalha, contanto que esteja satisfeito e se
divirta.”
“Também ame a sua própria esposa.”
(Efesios 5:23)
Assim como o homem ama a sua esposa, Deus ama a
humanidade. O amor, por sua natureza, exige o aperfeiçoamento do objeto
amado. Quando nos casamos deixamos de nos preocupar com nossa mulher, se ela é
limpa ou desleixada, bonita ou feia? Pelo contrario, aí é que começamos a nos
preocupar. Ou será que alguma mulher considera prova de amor o fato de seu
marido ignorar sua aparência ou não se preocupar com ela? O amor pode amá-la
ate quando a beleza se perder, mas não porque se perdeu. Pode perdoar as
fraquezas, mas não querer que não sejam eliminadas. O amor é mais sensível que
o próprio ódio às imperfeições no ser amado. O amor é o que mais perdoa, mas é
o que menos fecha os olhos para o erro. Ele se satisfaz com o pouco, mas exige
tudo.
Deus não ama o homem apenas com uma preocupação
desinteressada ou uma preguiçosa benevolência que deseja que você seja feliz a
sua maneira, mas com o amor que criou os mundos e não poupou o seu Filho para
nos resgatar.
Que Deus nos ajude a conhecer o tamanho, a largura, a altura
e a profundidade do Seu amor.
(Por Dc. Angércio Júnior -
Baseado no Livro "O problema do
sofrimento" de C. S. Lewis)
Nenhum comentário:
Postar um comentário